sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

As TIC e as BE -Refexão


Quando Prensky (2001) apontava no seu artigo para o declínio da qualidade educativa pela incapacidade das gerações anteriores (os imigrantes digitais) acompanharem o ritmo evolutivo dos seus alunos (os nativos digitais) que mais naturalmente se enquadram num ambiente tecnológico em que nasceram e cresceram, estava claramente a dramatizar. A expressão emblemática do “Nativo/ Imigrante Digital”, segundo Prensky, era crucial para demonstrar essa divisão geracional provocada por um desenvolvimento tecnológico impetuoso. Caracterizava o sistema educativo como ultrapassado, onde professores e alunos comunicavam numa língua diferente.
Apesar de no seu artigo desenvolver uma argumentação algo exagerada em torno dessa problemática, uma vez que não devemos sobrelevar as capacidades e competências tecnológicas dos nossos alunos, que fazem com frequência um uso excessivamente lúdico das tecnologias, nem subestimar as qualidades de muitos dos nossos professores em manusear e aplicar novas tecnologias, alerta para um problema e uma realidade que merece um tratamento mais atento da parte das nossas escolas e do sistema educativo no seu todo. A necessidade que resulta de vivermos numa sociedade da informação com exigências assentes nas novas tecnologias a que os métodos de ensino não têm correspondido. E a evidência em reconhecer que estas alterações sociais e culturais decorrentes do desenvolvimento tecnológico, têm impacto na educação e na aprendizagem, como é relatado por vários autores (Carvalho, 2007; e Mota,2009). Na realidade não foram só os meios de comunicação que mudaram. Foi também a linguagem, os modos de entender o mundo e de o representar.
Afastarmo-nos dessa realidade equivale em parte a condicionarmos as aspirações de aprendizagem dos alunos. Daí que importa conhecer e apropriarmos os contextos de aprendizagem, numa transição para o ensino misto (Carvalho, 2007), presencial e à distância, dos nossos alunos para estimular a sua aprendizagem. As teorias de aprendizagem ajudam-nos a compreender a importância desse fator. Neste sentido, o professor não assume a centralidade neste processo, mas a sua orientação na construção do conhecimento através da cooperação, colaboração e interação, mudando assim o paradigma educacional, para um paradigma colaborativo, colaborativo e interativo.
Também Siemens (2008) apresenta uma filosofia de aprendizagem no contexto de uma era digital (o conetivismo) com implicações a nível de práticas educativas, uma pedagogia centrada na interação. A partir da constatação do impacto da Internet numa sociedade globalizada, considera fundamental desenvolver a capacidade de gerir essa informação na rede, criar e manter conexões (conetividade) e integrar informação para construir conhecimento, sendo a aprendizagem o resultado dessas mesmas conexões.
A internet oferece imensas oportunidades de aprendizagem individual e colaborativa, na pesquisa, na partilha de uma grande variedade de recursos e ferramentas da web 2.0. Os ambientes virtuais de aprendizagem e as comunidades de práticas surgem, como tentativa de resposta a estas múltiplas e complexas exigências. No entanto, a utilização das novas ferramentas tecnológicas, das plataformas de aprendizagem, das Comunidades de Prática ou os Personal Learning Systems, estão pouco integradas nas atividades letivas. Illera (2007) descreve as Comunidades de Prática como estruturas contínuas no tempo que se organizam em torno de um interesse comum ou de uma área de conhecimento, que se definem pela partilha de uma prática prolongada e significativa entre os membros.
Através recurso à internet (Moura, Azevedo e Mehlecke), ou mesmo de videojogos (Prensky, 2001), o professor deve explorar os recursos digitais, aplicá-los na prática letiva, numa perspetiva construtivista e conetivista, em que a aprendizagem é multidirecional e multidimensional. E não é só por falta de recursos informáticos que as escolas não estão preparadas para por em prática esse paradigma. Na verdade existe um subaproveitamento desses recursos disponíveis. As dificuldades surgem muitas vezes da falta de preparação dos professores na área das TIC e também da incapacidade de compreenderem e acreditarem nas potencialidades da literacia informática (Miranda, 2007). Assim, saber manipular essas ferramentas é um primeiro passo para integrar esses ambientes virtuais de aprendizagem (fóruns, chats, aulas virtuais, blogs, entre outros) no processo de aprendizagem. Para além disso, há que acrescentar a falta de motivação, de tempo ou hábito em colaborar, e de recursos humanos (uma equipa mais vasta e multidisciplinar nas bibliotecas escolares).
É neste contexto que surgem as bibliotecas escolares, integradas na Rede de Bibliotecas Escolares. A Biblioteca Escolar assume responsabilidades complexas: a operacionalização transversal do currículo, facilitadora da aprendizagem; de promoção do sucesso escolar e de formação de alunos críticos; de sensibilização da classe docente para aplicar e desenvolver recursos colaborativos e de comunicação com alunos. Os professores trabalham em conjunto com o professor bibliotecário, rentabilizando a informação disponível. Proporcionam recursos tecnológicos, ambientes virtuais de aprendizagem e criam comunidades de prática, incentivando assim a motivação dos alunos pela aprendizagem, uma vez que trazem novas possibilidades de aprendizagem aos alunos.
As Bibliotecas Escolares devem tornar-se mais proactivas na colaboração com Professores e alunos quer através da dinamização de formação para esse efeito, quer numa ligação efetiva com as aulas, através da sua integração em unidades de estudo, pesquisa, que demonstrem as potencialidades desses ambientes virtuais. De facto, professores e alunos aderem mais facilmente a essas possibilidades se entenderem a relação desses ambientes virtuais e as comunidades de prática (promotores de comunicação e mediação de conhecimento), com o trabalho que estão a desenvolver na escola no âmbito das diversas disciplinas (Portugal, 2012).
As Bibliotecas Escolares abrem-se assim a um conjunto de possibilidades, tornando-a um espaço de expressão (de conhecimento e cultural), de autonomia e de participação dos alunos. As bibliotecas escolares tornam-se importantes para gerir informação útil e relevante num universo de informação bastante alargado. Para além disso, podem assumir o papel de divulgação a um público mais amplo, os conhecimentos e as atividades desenvolvidas na escola por meio do uso desses ambientes virtuais. Um papel que vai para além de ensinar a manipular a tecnologia, permitindo criar um espaço de reflexão sobre novas formas de comunicar, pensar e representar as nossas aprendizagens. Ao mesmo tempo, devemos estar atentos para que estas novas oportunidades de aprendizagem não se tornem num deslumbramento tecnológico que possa dificultar a prossecução dos objetivos educativos, possa contribuir para esbater a relação entre o professor-aluno (na transmissão de valores, conhecimentos e experiências entre gerações), ou ainda possa criar problemas aos nossos alunos em termos de privacidade, intimidade e qualidade de vida por fazerem um uso abusivo da internet.


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