Quando Prensky (2001) apontava no seu artigo para o declínio
da qualidade educativa pela incapacidade das gerações anteriores (os imigrantes
digitais) acompanharem o ritmo evolutivo dos seus alunos (os nativos digitais)
que mais naturalmente se enquadram num ambiente tecnológico em que nasceram e
cresceram, estava claramente a dramatizar. A expressão emblemática do “Nativo/ Imigrante Digital”, segundo Prensky, era crucial para
demonstrar essa divisão geracional provocada por um desenvolvimento tecnológico
impetuoso. Caracterizava o sistema educativo como ultrapassado, onde
professores e alunos comunicavam numa língua diferente.
Apesar
de no seu artigo desenvolver uma argumentação algo exagerada em torno dessa
problemática, uma vez que não devemos sobrelevar as capacidades e competências
tecnológicas dos nossos alunos, que fazem com frequência um uso excessivamente
lúdico das tecnologias, nem subestimar as qualidades de muitos dos nossos
professores em manusear e aplicar novas tecnologias, alerta para um problema e
uma realidade que merece um tratamento mais atento da parte das nossas escolas
e do sistema educativo no seu todo. A necessidade que resulta de vivermos numa
sociedade da informação com exigências assentes nas novas tecnologias a que os
métodos de ensino não têm correspondido. E a evidência em reconhecer que estas
alterações sociais e culturais decorrentes do desenvolvimento tecnológico, têm
impacto na educação e na aprendizagem, como é relatado por vários autores
(Carvalho, 2007; e Mota,2009). Na realidade não
foram só os meios de comunicação que mudaram. Foi também a linguagem, os modos
de entender o mundo e de o representar.
Afastarmo-nos
dessa realidade equivale em parte a condicionarmos as aspirações de
aprendizagem dos alunos. Daí que importa conhecer e apropriarmos os contextos
de aprendizagem, numa transição para o ensino misto (Carvalho, 2007),
presencial e à distância, dos nossos alunos para estimular a sua aprendizagem.
As teorias de aprendizagem ajudam-nos a compreender a importância desse fator. Neste sentido, o professor não assume a centralidade
neste processo, mas a sua orientação na construção do conhecimento através da
cooperação, colaboração e interação, mudando assim o paradigma
educacional, para um paradigma colaborativo, colaborativo e interativo.
Também Siemens (2008) apresenta uma
filosofia de aprendizagem no contexto de uma era digital (o conetivismo) com
implicações a nível de práticas educativas, uma pedagogia centrada na
interação. A partir da constatação do impacto da
Internet numa sociedade globalizada, considera fundamental desenvolver a
capacidade de gerir essa informação na rede, criar e manter conexões
(conetividade) e integrar informação para construir conhecimento, sendo a
aprendizagem o resultado dessas mesmas conexões.
A
internet oferece imensas oportunidades de aprendizagem individual e
colaborativa, na pesquisa, na partilha de uma grande variedade de recursos e
ferramentas da web 2.0. Os ambientes virtuais de aprendizagem e as comunidades
de práticas surgem, como tentativa de resposta a estas múltiplas e complexas
exigências. No entanto, a utilização das novas ferramentas tecnológicas, das
plataformas de aprendizagem, das Comunidades de Prática ou os Personal Learning
Systems, estão pouco integradas nas atividades letivas. Illera (2007) descreve
as Comunidades de Prática como estruturas contínuas no tempo que se organizam
em torno de um interesse comum ou de uma área de conhecimento, que se definem
pela partilha de uma prática prolongada e significativa entre os membros.
Através
recurso à internet (Moura, Azevedo e Mehlecke), ou mesmo de videojogos
(Prensky, 2001), o professor deve explorar os recursos digitais, aplicá-los na
prática letiva, numa perspetiva construtivista e conetivista, em que a aprendizagem
é multidirecional e multidimensional. E não é só por falta de recursos
informáticos que as escolas não estão preparadas para por em prática esse
paradigma. Na verdade existe um
subaproveitamento desses recursos disponíveis. As dificuldades surgem muitas
vezes da falta de preparação dos professores na área das TIC e também da
incapacidade de compreenderem e acreditarem nas potencialidades da literacia
informática (Miranda, 2007). Assim, saber manipular essas ferramentas é um
primeiro passo para integrar esses ambientes virtuais de aprendizagem (fóruns,
chats, aulas virtuais, blogs, entre outros) no processo de aprendizagem. Para
além disso, há que acrescentar a falta de motivação, de tempo ou hábito em
colaborar, e de recursos humanos (uma equipa mais vasta e multidisciplinar nas
bibliotecas escolares).
É
neste contexto que surgem as bibliotecas escolares, integradas na Rede de
Bibliotecas Escolares. A Biblioteca Escolar assume responsabilidades complexas:
a operacionalização transversal do currículo, facilitadora da aprendizagem; de
promoção do sucesso escolar e de formação de alunos críticos; de sensibilização
da classe docente para aplicar e desenvolver recursos colaborativos e de
comunicação com alunos. Os professores trabalham
em conjunto com o professor bibliotecário, rentabilizando a informação disponível.
Proporcionam recursos tecnológicos, ambientes virtuais de aprendizagem e criam
comunidades de prática, incentivando assim a motivação dos alunos pela
aprendizagem, uma vez que trazem novas possibilidades de aprendizagem
aos alunos.
As Bibliotecas Escolares
devem tornar-se mais proactivas na colaboração com Professores e alunos quer
através da dinamização de formação para esse efeito, quer numa ligação efetiva
com as aulas, através da sua integração em unidades de estudo, pesquisa, que
demonstrem as potencialidades desses ambientes virtuais. De facto, professores
e alunos aderem mais facilmente a essas possibilidades se entenderem a relação
desses ambientes virtuais e as comunidades de prática (promotores de
comunicação e mediação de conhecimento), com o trabalho que estão a desenvolver
na escola no âmbito das diversas disciplinas (Portugal, 2012).
As
Bibliotecas Escolares abrem-se assim a um conjunto de possibilidades,
tornando-a um espaço de expressão (de conhecimento e cultural), de autonomia e
de participação dos alunos. As bibliotecas escolares tornam-se importantes para
gerir informação útil e relevante num universo de informação bastante alargado.
Para além disso, podem assumir o
papel de
divulgação a um público mais amplo,
os conhecimentos e as atividades desenvolvidas na escola por meio do uso desses
ambientes virtuais. Um papel que
vai para além de ensinar a manipular a tecnologia, permitindo criar um espaço
de reflexão sobre novas formas de comunicar, pensar e representar as nossas
aprendizagens. Ao mesmo tempo, devemos estar atentos para que estas novas
oportunidades de aprendizagem não se tornem num deslumbramento tecnológico que
possa dificultar a prossecução dos objetivos educativos, possa contribuir para
esbater a relação entre o professor-aluno (na transmissão de valores,
conhecimentos e experiências entre gerações), ou ainda possa criar problemas aos
nossos alunos em termos de privacidade, intimidade e qualidade de vida por
fazerem um uso abusivo da internet.
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