(A nossa capacidade para aprender o que necessitamos para amanhã é mais importante do que o que sabemos hoje)
(George Siemens,“A learning theory for the digital age”, 2004, p.4)
Esta afirmação de George Siemens encerra em si, de forma taxativa, as principais coordenadas para uma inevitável e irreversível mudança nos paradigmas de aprendizagem escolar face às características e às tendências da sociedade atual. Em primeiro lugar, contrasta duas atitudes face à aprendizagem: uma centrada na aquisição de conhecimentos (ainda muito enraizada) e outra voltada para o desenvolvimento processual de acesso ao conhecimento em função de necessidades. Em segundo lugar, remete para as razões por que tal se apresenta como princípio de uma filosofia de aprendizagem na era digital (o conetivismo) e, simultaneamente, para as suas implicações a nível de práticas educativas. Em último lugar, apresenta-se-nos latente um confronto entre dois momentos: o hoje e o amanhã.
Desbravando o contexto das afirmações anteriores, é certo e sabido que a revolução tecnológica digital, que nas últimas duas décadas invadiu todos os setores da vida quotidiana, transformou a forma como vivemos, comunicamos e, necessariamente, como aprendemos, criando uma descontinuidade geracional não só em termos sociais e educacionais, mas também a nível do próprio desenvolvimento cerebral. As gerações de hoje vivem constantemente “ligadas”: desenvolvem uma vida social em permanente conexão virtual, operam multicontextos virtuais em simultâneo, manuseiam a tecnologia com destreza inata como um brinquedo funcional, sem medos ou apreensões, tirando partido de todas as suas valências. O à-vontade destes nativos da net difere significativamente da capacidade mais, ou menos, adaptativa às TIC por parte da geração de imigrantes digitais e, mais ainda, diríamos, dos resistentes digitais – a geração a que pertence a maioria do corpo docente curricular e das bibliotecas, responsáveis pela escolarização da “net-gen” . E este é o grande contraste que existe entre a realidade do quotidiano e a realidade das práticas educativas nas escolas portuguesas, não apenas devido a habilidades tecnológicas geracionais diferentes, mas também dada a carência de meios, condições e motivações para que aqueles as desenvolvam.
Por outro lado, o aumento exponencial da informação e a sua caducidade face à rapidez com que é produzida, divulgada e acedida, determina que, hoje, seja mais importante saber onde (know-where) e como (Know- how) procurar a informação (know what) de que se necessita do que possuir um repositório de conhecimento muito possivelmente ultrapassado. O professor hoje já não é aquele que tudo sabe. O conhecimento está em permanente atualização e o professor tem de ter consciência de que o que é verdade hoje, amanhã pode não ser. Tal como o dever de atualização permanente deve ser uma competência responsável do professor, assim também este deve incutir nos alunos o sentido de responsabilidade por um processo contínuo de aprendizagem ao longo da vida, bem como o sentido crítico e de originalidade no acesso, selecção e utilização da informação – competências em que a biblioteca pode ter uma intervenção fundamental em complemento às práticas curriculares.
Em tempo de velocidade e globalização, não será possível continuar a insistir na cisão entre as práticas quotidianas e escolares; será inevitável que, mais cedo ou mais tarde, a escola enverede pelas dinâmicas digitais que dominam o quotidiano. Até quando poderão continuar os bloqueios institucionais às redes sociais? Até quando as plataformas LMS e os blogues vão continuar a ser meros repositórios de informação? A geração de professores imigrantes digitais (e de resistentes digitais) enfrenta o grande desafio de aprender a linguagem e as estratégias da geração-net para ensinar conteúdo do passado e do futuro. À cooperação, interação e colaboração, como estratégias de construção de conhecimento individual, junta-se a conetividade entre a experiência pessoal e a de uma ou várias comunidades, a conexão interdisciplinar e em hiperligação entre conceitos e fontes, na busca permanente de informação, e o desenvolvimento da capacidade de procurar, aumentar conhecimento. O papel da escola é orientar a capacidade de distinguir o essencial do acessório, de criar novo a partir do existente, i.e., ensinar a ser original e desenvolver o espírito crítico, fazendo uso das tecnologias dinâmicas da Web 2.0, quiçá, 2.3 ou 2.4 que dominam (-rão) o dia-a-dia dos nossos jovens e crianças. Será isto o futuro nas nossas escolas e nas bibliotecas escolares! Esperemos. Por cá, por enquanto, o fosso geracional ainda não foi aplainado nem a contenção conjuntural o permite.
Bibliografia:
Siemens, G.(2004) , “A Learning Theory for the Digital Age”[on-line], disponível em http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism
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